Os atores geralmente tentam não julgar seus personagens, sejam vilões, mocinhos ou malandros. E Alexandre Borges não é diferente. Na novela "I Love Paraisópolis", que vai substituir "Alto Astral", ele será Jurandir, ou Juju, o ex-marido de Eva (Soraya Ravenle) e pai de Mari (Bruna Marquezine) e Danda (Tatá Wernek). Desempregado, Juju vive de bicos e tenta reconquistar a ex a todo custo. Para o ator, ele é também uma vítima da falta de oportunidades. "É totalmente um filhote da crise", afirma, em conversa com o Purepeople.
Para dar vida a Juju, Alexandre Borges aderiu a um visual mais informal, com barba e cabelo mais compridos. A caracterização já sinaliza a maneira de ser do personagem, conforme explica o intérprete: "Ele é bem popular, um cara originário de Paraisópolis, que tenta se virar na comunidade meio que nos bicos, nas coisas da malandragem. Ele está fora de casa, pois a mulher dele se encheu de estar um cara desempregado e sem dinheiro, por isso ele vive tentando reconquistá-la. Então ele faz coisas, tipo, dar de presente a ela uma TV a cabo clandestina, achando que vai arrasar, mas ela odeia, acha que é um absurdo, essas coisas...".
Na trama, que teve cenas gravadas em Nova York, Jurandir terá muitos momentos de humor. Para Alexandre o lado cômico tem a ver com o modo de viver. "A comédia é um pouco sobre como você encara sua vida. O personagem pode tanto estar mal-humorado e ranzinza numa situação, quanto pode tirar daquilo uma coisa para dar a volta e achar engraçado. (...) Mesmo na dureza, no que poderia dar errado, o Juju tenta. Acho que pessoas da comunidade, como ele, tem uma força muito grande, tem a coisa do enfrentamento. Porque ali, cada um tem que se virar, tem que marcar seu território", pondera.
A questão da não oportunidade
Apesar das trapalhadas de Juju, Alexandre chama atenção para os fatores que o levam a estar na situação precária em que se contra: "Eu vou tentar fazer uma defesa do personagem, sem também julgá-lo. Acho que tem isso de ele não querer trabalhar, ser encostado. Mas tem pessoas que não tem ambição. E tem também a questão da não oportunidade, o temperamento, o fato de ele não querer receber ordens...", opina.
"Isso de não conseguir se submeter a uma hierarquia leva a um desemprego que vai se acomodando. Porque de repente o cara vai ganhar 500 reais para passar o dia inteiro fazendo um trabalho que ele não queria fazer, e numa briga de galo que faz, tira uns dois mil reais. Sem sair do lugarzinho dele, que domina, com os amigos. Ele não é aquele tipo de cara que sai da comunidade, pega um ônibus e vai para o centro", conta o ator, revelando o lado contraventor do malandro, que estará presente em outros personagens também, como no bandido Grego (Caio Castro).
Ainda que defenda Jurandir, o artista ressalta a importância do trabalho honesto, que será mostrado pela protagonista: "É claro que eu acho que todo mundo tem que correr atrás, buscar sua dignidade, seu trabalho. E acredito que o Juju vá ter essa virada, ele vai se tocar disso". Porém, Alexandre chama atenção para a questão política presente no dilema do personagem. "Eu vejo muitas pessoas assim, como eu, que estou com 49 anos, pessoas de 50, 60, que estão completamente excluídas do mercado de trabalho. E que acabam entrando numa situação em que não tem mais oportunidades, ainda mais quando não tiveram muito estudo... Tem a ver com a crise no país também, o Juju é totalmente um filhote da crise".
(Por Samyta Nunes)