A Fazenda 2024: por onde anda Haysam Ali, da 'Fazenda de Verão'? Ex-participante superou bullying e virou ator

Em 2012, a Record TV lançou a primeira e única edição de "A Fazenda" com anônimos. Apresentada por Rodrigo Faro, a "Fazenda de Verão" foi marcada pela acusação de homofobia contra a emissora. As participantes Angelis Borges e Manoella Stoltz formaram um casal na atração, mas os beijos e carinhos nunca eram exibidos. Depois de muito protesto, a primeira cena afetiva das duas foi ao ar 22 dias depois do início do romance - o mesmo não acontecia com o casal heterosseuxal da edição.

Haysam Ali tinha 24 anos quando topou participar da "Fazenda de Verão". O que poderia ser uma oportunidade de mudança de vida, tornou-se uma experiência traumática. Ele foi alvo de bullying do participante Lucas, que foi expulso após ameaçar o colega de confinamento enquanto empunhava um machado. O comportamento violento e problemático do rapaz voltou a render manchetes em 2023, quando ele foi preso preventivamente acusado de espancar o filho de 5 anos.

Em contrapartida, a frustração com o programa serviu de impulso para Haysam deixar o Brasil para tentar carreira nos Estados Unidos. Em Los Angeles, ele se formou na escola de teatro Stella Adler Studio of Acting e trabalhou com o acting coach de astros de Hollywood, como Marlon Brando, Robert De Niro e Mark Ruffalo.

"Essa minha formação na Stella Adler, que é uma escola muito legal e séria com relação ao treinamento de artistas, é uma faculdade. É algo que ajuda você a se conhecer como pessoa. O objetivo era obviamente desenvolver técnicas para eu me tornar um ator melhor e entrar em personagens legais, mas ao mesmo tempo, descobri que foi muito legal pra eu me conhecer melhor. Como o ator lida com o emocional, é muito importante saber ter esse controle", pontua Haysam, em entrevista ao Purepeople.

Agora, ele se prepara para o lançamento de seu primeiro trabalho em solo estadunidense, o curta-metragem "Play". Gravado no ano passado, o filme será exibido em 18 festivais de cinema nos Estados Unidos e estreia no Brasil no dia 14 de outubro.

O curta discute, justamente, o bullying. Haysam dá vida a Henry, um homem sensível e emotivo que sofreu perseguições ao longo da vida. "Não se enquadra nos padrões do que a sociedade considera como hétero", explica o ator. A reviravolta no filme acontece quando a esposa propõe que o casal procure um terapeuta sexual.

Por conta da temática, Haysam e a equipe do curta desenvolveram uma parceria com o programa de ação Escola Sem Bullying, visto que o filme debate as consequências nocivas desta prática a longo prazo na vida das pessoas. O artista, no entanto, defende que o combate ao bullying deve começar com os pais já na infância.

"Não adianta nada a escola fazer um trabalho ou essa instituição fazer um trabalho nas escolas se depois a criança chega em casa e a opinião do pai é diferente. É aquele ditado: filho de peixe, peixinho é. É legal essa parceria com a Escola Sem Bullying pra ajudar na conscientização da família em si", reflete.

Haysam ainda não trabalhou como ator no Brasil, mas visa oportunidades em seu país natal. "Quero, sim, poder trabalhar com os dois países. O Brasil é onde eu nasci, eu amo, sinto muita falta de poder estar aí mais tempo, mas a agenda de trabalho acaba não ajudando. Seria muito legal poder conciliar os dois países", reflete o artista, que já tem um agente por aqui.

Apesar de notar diferenças com relação ao investimento, dos treinamentos aos projetos, Haysam destaca a qualidade dos artistas brasileiros. "Impressionante como nós, brasileiros, conseguimos fazer materiais muito bem executados com uma verba 10 vezes menor em comparação à daqui. A diferença é o acesso aos recursos, tanto intelectuais, quanto financeiros. Porque os brasileiros são muito bons e talentosos no que diz respeito à arte", enaltece.

Haysam muda sutilmente o semblante quando o assunto é "Fazenda de Verão". "Você pode perceber que é uma coisa que eu não gosto muito de falar e de lembrar porque é muito triste", ele justifica.

O ator repete que não culpa ninguém pela sua experiência e destaca sua ingenuidade na época. "Eu achei que entraria em uma casa onde eu poderia apagar e acender a luz. Não sabia nem o que era um estúdio de TV (risos)", brinca.

Haysam desistiu do reality show em dois meses, mesmo após a expulsão de seu agressor. Ele não esconde que se sentiu desamparado, mas atribui à falta de discussões da época sobre bullying e outros combates à opressão.

"Eu passei por isso, sofri as consequências. Tive que fazer terapia, tomar remédio, tenho crises de pânico até hoje. Eu não conseguia nem entrar em avião. Foi uma coisa muito, muito pesada depois d'A Fazenda' pra mim", lamenta.

Nos últimos tempos, muito se fala da entrada de influenciadores e ex-participantes de reality shows em novelas. Perguntado se toparia retornar a um programa do formato para alavancar a carreira, Haysam reagiu pensativo, mas concluiu que poderia ser frutífero.

"A pessoa que participa desse programa não é mais taxada como aquilo e acabou. Tem várias pessoas que conseguiram encaminhar a carreira artística delas por conta dessa visibilidade. Eu acho que levaria em consideração, sim. Seria até legal porque eu conseguiria terminar uma história que comecei e não terminei", refletiu.

Mas Haysam almeja ser mais que um ator de entretenimento. "O meu objetivo como artista - e que eu gostaria que desse certo dessa forma - é sempre fazer papeis que estejam ligados a coisas que fazem sentido pra sociedade. Quero trazer entretenimento de uma forma consciente também, não fazer só coisas engraçadas, mas fazer parte de projetos com apelo social. Através da arte, a gente consegue educar as pessoas", finaliza.