Um final para corações fortes. Assim foi o último capítulo da novela "Além do Tempo", exibido nesta sexta-feira (15). Ainda mais emocionante que o fim da primeira fase, o desfecho da história ousada e inovadora de Elizabeth Jhin foi de se assistir na ponta da cadeira, com respiração ofegante e olhos marejados. Apesar de os destinos dos personagens já terem sido divulgados, a dinâmica e beleza das cenas - com sequências de ação excelentes - deixaram o telespectador grudado na tela o tempo todo. Além de terminar em primeiro lugar nos tópicos mais comentados no Twitter, a trama deixa sua marca na teledramaturgia e muita saudade.
Foi emoção do início ao fim. Bem roteirizado, o fim começou com a morte de Alberto (Juca de Oliveira) e em seguida um momento feliz e comovente entre filha, mãe e avó; com Lívia (Alinne Moraes), Emília (Ana Beatriz Nogueira) e Vitória (Irene Ravache). Sem deixar a peteca cair, na sequência o sequestro e salvamento de Alex (Kadu Schons) deixou o público com taquicardia e antes que pudéssemos respirar aliviados, os protagonistas estavam novamente no penhasco, encurralados por Pedro (Emílio Dantas), que lhes apontava uma arma.
Com imagens de flashbacks mescladas com o presente, a música "Together" e a força de interpretações, novamente fomos suspensos numa nuvem de tensão, já envolvidos e torcendo desesperadamente para que tudo fosse diferente desta vez. Tanto Emílio na loucura de Pedro como Paolla Oliveira na mudança de Melissa, merecem reverências pelo trabalho. A luta dos dois até o tiro que não se sabe em quem acertou- recurso até batido - foi de uma intensidade impressionante. Paolla ainda fez a redenção da vilã, depois de ter salvado o casal rival, num plano fechado em seu olhar, sem texto. Impossível não cobri-la de elogios.
Focado nos protagonistas, mas sem ignorar os coadjuvantes, esse último capítulo coroa os muitos acertos de "Além do Tempo". O casamento de Anita (Letícia Persiles) e Afonso (Caio Paduan) em vez do de Lívia e Felipe fez todo o sentido, uma vez que para a trama dos dois esse ritual tinha muito mais relevância simbólica. Unido pelo amor que persiste para além das vidas e obstáculos,"Livipe" selou o tradicional "Fim", na última cena, com um beijo apaixonado. E então o áudio de um discurso de Chico Xavier surgiu na vinheta, como a cereja do bolo. Surpresa derradeira e mais que agradável.
Inovação e ineditismo que deram certo
A proposta era arriscada e inédita desde o início: fazer duas novelas em uma, histórias que se passam em séculos diferentes. Mas eis que também desde a estreia o novelão - como é chamado muitas vezes pelo público nas redes sociais - mostrou a que veio, com um elenco brilhante, texto muito bem escrito e a inspirada direção de Papinha. Michel Melamed se destacou na pelo do carismático anjo Ariel, talvez o personagem mais complexo: um ser sobrenatural que foi ganhando cada vez mais humanidade e se apaixonou quando estava desacreditado do amor.
Então veio a virada, uma mudança de fase estarrecedora em todos os detalhes: as chamadas, a dramaturgia, trilha, estética, uma nova abertura... Muita gente foi pega de surpresa e lamentou o fato da história vir para os tempos atuais. Mas no século XXI a novela só cresceu. Como mais um recurso de inovação, os flashbacks viraram áudios em off durante as vinhetas de intervalo e muitas vezes até na abertura. As vozes eram de arrepiar e evitaram didatismos para explicar a trama. A inversão de lugar entre Emília e Vitória é um dos muitos exemplos do quanto o folhetim ganhou com a mudança.
Para analisar todos os aspectos relevantes que alçaram a obra de Elizabeth Jhin ao status de melhor novela para muita gente, seriam necessárias também duas críticas. Mas como nem sempre as coisas são como na ficção, cabe resumir em poucas linhas: "Além do Tempo" revoluciona a maneira de fazer novelas. Uma trama que abordou a espiritualidade característica do estilo da autora com muita elegância, sem exageros. Teve personagens fortes, elenco afiadíssimo, inovações acertadas e um trabalho de equipe funcionando perfeitamente. De encher os olhos.
(Por Samyta Nunes)