Alinne Rosa não foi agredida, mas transformada em 'vítima' pelas mãos habilidosas de um artista: o maquiador Wilson D'Argolo. O profissional já sabia que faria um trabalho para a campanha promovida pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), do Governo da Bahia, pelo fim da violência doméstica, mas foi apenas na hora em que ficou frente a frente com Alinne Rosa no set de filmagem, na segunda-feira (10), que ele descobriu que teria que lhe 'causar ferimentos'. "Usei apenas um jogo de sombras e corretivo. Foi apenas meia hora de make, pois queriam algo simples, mas marcante", conta Wilson, que tem mais de vinte anos de profissão.
Na manhã de terça-feira (11), a cantora chamou a atenção ao ser flagrada usando óculos escuros, com o olho direito aparentando estar bastante ferido e escoriações na boca. "A ideia era marcamos bem o olho. Tínhamos referência para fazer um make como o da Alinne Moraes, na novela "Viver a Vida" (onde a personagem Luciana sofria um acidente de carro e virava tetraplegica). O canto da boca machucado foi uma ideia da Alinne e fizemos algo bem sutil. Na simplicidade mora a verdade", ensina o maquiador.
Com 62 anos, Wilson D'Argolo começou a carreira como ator em 1991, mas logo enveredou para a maquiagem. Hoje, também trabalha com figurino, produção de moda e direção de arte. O baiano trabalhou nos longa-metragens, "Ó Pai Ó" (e posteriormente integrou o casting de maquiadores da série homônima exibida pela TV Globo), "Revoada", "Quincas Berro D'Água e Trampolim do Forte, que lhe rendeu o prêmio de melhor maquiagem de longa no Festival de Sertões, no Piauí. "A arte está interligada e tudo o que é artístico me interessa. E participar de um trabalho para uma causa tão bacana, me deixa ainda mais satisfeito. Ferir alguém dói demais, nem que seja trabalhando. Risos. Mais do que gostar do meu trabalho, quero que as pessoas gostem e abracem a campanha", garante maquiador baiano.
Sumiço necessário
Mas além do maquiador, a campanha criada pela agência de publicidade Leiaut contou com uma grande equipe de produção. O fotógrafo Will Vieira, que participou do projeto ainda embrionário, conta que a ideia da campanha era conseguir mídia espôntanea. "Ela aceitou o convite na hora. Achávamos que todo mundo conhece Alinne e iria ter a curiosidade em saber o que aconteceu com ela", diz o fotógrafo.
E tudo foi minuciosamente pensado: na segunda-feira, a cantora fotografou em uma rua próxima a sua casa, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. A determinação era que ela ficasse trancada em casa até esta terça-feira (11), para que ninguém desconfiasse de nada. "Pedimos que ela desse uma sumida. Alinne queria malhar, mas a gente não deixou", diverte-se Will. Assim que as fotos foram divulgada, a equipe ficou o tempo todo fazendo um monitoramento de mídias sociais para ver a repercussão do caso.
Após a divulgação das fotos, a cantora gravou o vídeo da ação "16 dias de ativismo pelo fim da violência contra mulheres", dirigido por Diego Lisboa. A campanha é uma mobilização de massa, que ocorre em 159 países, pelo fim do sexismo e construção de uma sociedade livre para todas as mulheres. Alinne Rosa protagonizou a ação, abrindo mão do seu cachê em apoio à campanha. Na quinta-feira, ela será recebida pela titular da SPM, Vera Lúcia Barbosa, na sede da secretaria, em Salvador, para uma homenagem. "Não faremos nenhum outdoor ou campanha impressa. O nosso objetivo foi atingido. Quando um artista acredita em uma causa, consequentemente, gera mídia", analisa o fotógrafo.
(Por Renata Mendonça)