Aline Wirley e Igor Rickli contaram que o filho de cinco anos sofreu um episódio de racismo enquanto a família almoçava em um restaurante na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo o casal, Antônio tentou brincar com o pet de uma mulher que estava no mesmo estabelecimento que a família. A cliente, que era branca, guardou o telefone e a bolsa quando o pequeno se aproximou. "Quando ele se aproximou da mesa desta senhora, louco para brincar com o cachorrinho, imediatamente ela recolheu as coisas dela, uma bolsa e um celular, com medo do meu filho. Aquilo me deu um clique. O meu filho vai passar por isso muitas vezes ainda na vida. E isso é assustador", disse o ator ao jornal "Extra". Nos últimos dias, as manifestações contra o racismo se tornaram um dos assuntos mais discutidos em todo o mundo e famosos aderiram a protestos na web.
O incidente abriu uma conversa sobre discriminação entre o casal e herdeiro, sempre fotografado em momentos divertidos com os pais. "Conversamos muito em casa. Não deveríamos estar mais nas ruas pedindo o fim da desigualdade e o respeito. O racismo já não deveria ser uma pauta. Mas sabemos que será ainda uma luta longa e árdua. E que nosso filho terá que ser forte para entender tudo isso", falou Aline.
Juntos há dez anos, Aline e Igor relataram preconceito por formarem um casal inter-racial. "Quando comecei a namorá-la, muitas pessoas vinham nas redes sociais me questionar. 'Nossa, você podia ter qualquer mulher. Por que ela?'", contou o artista. A cantora afirmou que durante muito tempo se blindou de comentários racistas ou e olhares que pareciam condenar os dois: "Eu também me desconstruí. Nasci e cresci do lado da minoria e achava que ok, este é meu lugar. Até doer profundamente, até imaginar que meu filho não poderia estar em outro lugar se eu pensasse assim. Sou eu que preciso empoderá-lo, dar o caminho para que ele um dia não precise justificar a sua raça e sua cor. Até porque ele é filho de um branco com uma preta. Tem estas duas raízes e vai ter que transitar entre elas".
De acordo com Aline e Igor, colocar o primogênito em uma escola pública está nos planos do casal. "Hoje, ele está numa creche-escola ótima, que amamos. Afinal, todo pai e mãe querem dar o melhor para seus filhos. Mas começamos a pensar por que não colocá-lo numa escola pública. Em que ele vai viver outra realidade e vai ver como é a vida de verdade. Por que não tentarmos dar à escola pública o melhor e fazê-la parte da nossa comunidade", explicou a ex-Rouge, que acompanha o crescimento de Antônio de perto.
Aline e Igor desejam apenas que o filho não passe pelos mesmos constrangimentos que seus antepassados. "Ele nasceu muito branco. Eu nem sabia o que dizer. Uma vez, saímos com minha mãe, que é bem preta, e uma amiga bem branca. Enquanto saí de perto, foram perguntar à minha mãe se ela era a babá e minha amiga a mãe. Pode parecer pequeno. Mas isso machuca e magoa. Então, é importante que a gente se manifeste e fale o que sentimos. Precisamos falar o que está entalado", desabafou Wirley.
(Por Patrícia Dias)