Carol Machado fez muito sucesso no final da década de 80 e início da 90 em novelas como "Top Model" e "Vamp", exibidas pela TV Globo. Longe dos holofotes há um tempo, Carol mantém um relação homoafetiva com a artista plástica Kika Motta, com quem construiu uma família com a chegada da pequena Tereza. A atriz engravidou e deu à luz em agosto de 2014. As duas participaram do projeto "Nomes do Amor – O amor que ousa dizer seu nome", da fotógrafa Simone Rodrigues, que consiste em expor a pluralidade de famílias homoafetivas brasileiras em livro, site e curta-metragem. Juntas desde 2007, Carol e Kika planejam ter mais um bebê juntas.
O depoimento do casal para Simone permeou toda a dificuldade de adaptação e como isso reflete na criação de Tereza: "É impressionante como um filho legitima algumas coisas. Não há resquícios de preconceito que permaneçam. A criança vem e é só amor, a família toda se rende. Nós sentimos que agora há um respeito maior. Mas ainda há muita desinformação na sociedade, as pessoas ficam um pouco chocadas."
Assim como Daniela Mercury e a jornalista Malu Verçosa, que se casaram em 2013 e cultivam uma relação estável, Carol e Kika dizem que agem com naturalidade quando pensam sobre a família: "Depois de alguns anos juntas, tivemos o desejo de ampliar, do casal virar família. As pessoas costumam falar 'Como vocês são corajosas!', mas a gente não se sente assim, apenas vivemos com naturalidade. Eu não penso 'Eu tenho uma família homoafetiva'. Essa família só existe porque é natural."
Como lidam com a curiosidades das pessoas e dúvidas do dia a dia
A curiosidade das pessoas sobre a chegada da filha não incomoda as mães, elas garantem: "Algumas perguntam 'Mas como foi? Foi inseminação? Vocês adotaram?'. Fica um ponto de interrogação. Eu acho muito legal, porque pelo menos elas já verbalizam, falar sobre a questão já é um avanço". E admitem que já passaram por momentos de dúvida sobre como lidar com a situação.
"Certa vez fomos a uma loja de bebês, a Carol estava grávida e a mulher perguntou sobre o pai. Na hora deu uma preguiça de contar tudo, de entrar no assunto. Depois nós refletimos e concluímos que não podemos entrar nessa, ter essa preguiça. Porque a Tereza está aí, ela já sabe de tudo e tem que ouvir a verdade para que isso fique num lugar tranquilo", lembra Kika. "Quanto mais naturalmente a gente trata a questão, mais as pessoas se abrem. Porque o preconceito parte da nossa dificuldade", acrescenta no depoimento.
'Optamos pelo doador anônimo porque planejamos ter uma família com duas mães'
Carol e Kika não tinham dúvida de que queriam engravidar. Combinaram que a atriz seria a primeira e a artista plástica, depois. Mas a primeira questão que surgiu entre elas foi: quem seria o doador? "Começamos a pesquisar, a procurar médico, a pensar se seria com um amigo ou com doador. Conversando com uma amiga que tinha tido filho com um conhecido (que ela havia liberado da responsabilidade da criação), ouvimos dela a seguinte frase: 'Na verdade, eu sublinhei uma ausência'. A criança sabe que ela tem um pai, que ele existe, só que não liga para ela".
Segundo elas, essa questão foi determinante para a decisão: "Optamos pelo doador anônimo porque planejamos ter uma família com duas mães. Sabíamos que, na prática, essa terceira pessoa não faria parte da criação da Tereza".
As mães de Tereza ainda se mostram perplexas com a dificuldade de aceitação de famílias como a delas e lamentam: "O mais chocante é o preconceito de algumas religiões, como elas podam os principais valores religiosos, que são o amor, a compaixão, o respeito, e jogam com o ódio, a intolerância. Isso demonstra o quanto elas estão afastadas do ensinamento primeiro da espiritualidade, que é o amor universal".
(Por Pedro Paulo Moura)