Com o passar dos anos, as mulheres ganharam ainda mais voz para se levantarem contra situações de violência e assédio. Na luta feminina, algumas conquistas, como a Lei Maria da Penha e as unidades de Delegacia de Defesa da Mulher, foram o início de uma batalha que está longe de terminar.
O assédio sexual em espaços sociais, como as universidades, por exemplo, ainda é uma realidade. "Existem pesquisas que indicam que o número de mulheres que sofrem todo tipo de violência no Brasil é muito alto", afirma a juíza aposentada Maria Consentino.
"Quando falamos sobre violência no ambiente acadêmico, nos referimos ao estupro que acontece dentro de Universidades Federais, por exemplo. Ninguém fala sobre isso, não é divulgado", comenta.
Dentro das universidades, há relatos comuns sobre assédio sexual. "O assédio sexual dentro de sala de aula é cometido por professores", destaca. "Há professores que se utilizam de sua posição de poder para assediar suas alunas", revela.
Maria Consentino explica que o toque sem o consentimento pode ser considerado crime de importunação sexual.
"O crime pode acarretar em uma prisão de um a cinco anos e pune qualquer ato libidinoso sem a anuência da vítima, com a finalidade de satisfazer o agressor, como: toques em diversas partes do corpo, aproximação indevida, masturbação na frente da vítima, etc", detalha.
As universidades ainda convivem com casos de assédio sexual. "Existe um número muito grande de subnotificação de casos desse tipo, devido a naturalização dessas atitudes no ambiente acadêmico", conta.
"O Instituto Avon realizou uma pesquisa na qual entrevistou universitárias do Brasil inteiro e 67% afirmaram que foram vítimas de assédio sexual, sendo que 63% não realizaram a denúncia por não encontrar apoio dentro das universidades", aponta.
Maria Consentino enxerga com preocupação o número baixo de denúncias: "Muitas dessas mulheres não denunciam por se sentirem culpadas, por medo, por não se sentirem incentivadas a denunciar".
Muitas vezes, o assédio sexual dentro das universidades é praticado por professores. "Sempre, ou na maioria dos casos, eles lançam mão dessa relação de poder. Começa com olhares, passa por abraços apertados, comentários sobre roupa ou corpo da vítima e falas elogiosas com o objetivo de seduzir", descreve.
"São sempre situações invasivas, nas quais a mulher se sente com medo de perder uma bolsa de estudos, de tirar uma nota baixa ou qualquer coisa que a comprometa academicamente", comenta.
"A violência psicológica também está presente no ambiente acadêmico por meio de trotes, piadas misóginas e divulgação de fotos de alunas nuas. Geralmente, essas agressões são praticadas por colegas de classe", ressalta Maria Consentino.
A forma de evitar qualquer crime sexual ou de violência contra a mulher é através da prevenção. "As universidades precisam criar canais de denúncia e fazer campanhas de conscientização, ajudando assim a desnaturalizar esse tipo de ação dentro do ambiente acadêmico", sugere.
Para evitar que o número de casos continue a aumentar, é importante que a sociedade seja educada através de discussões acerca do tema. "A conscientização é a melhor forma de prevenir", declara.
Mas como denunciar se as universidades não tiverem um canal eficiente de comunicação para casos como esses?. "Se a mulher não encontra apoio ou meios para realizar a denúncia dentro da universidade, o melhor é realizar uma notícia-crime em uma delegacia", orienta Maria Consentino.