Em "Salve Jorge", o malandro Pescoço (Nando Cunha) está dando o que falar. Ele vive de olho na laje da vizinha. É pivô de barraco entre Delzuíte (Solange Badim) e a periguete Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues) e ainda vai se envolver com o tráfico de órgãos na novela das nove da Globo.
Nando Cunha está na emissora desde 2007 e, para quem não se lembra, o ator viveu Grande Otelo na minissérie "Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor", em 2010. Entusiasmado com o sucesso do personagem na trama de Glória Perez, ele conversou com exclusividade com o Purepeople sobre os novos rumos de Pescoço. Leia:
Purepeople: você vê o Pescoço como um malandro incorrigível ou ele tem algum lado positivo?
Nando Cunha: O Pescoço é um cara normal e, como a maioria dos homens casados, é mulherengo. A diferença é que, por ser uma novela, tem exagero. O que existe de homens iguais a ele por aí, em qualquer classe social, ninguém imagina. Então o fato é que o personagem se baseia na realidade. Mas não é uma pessoa "do mal". Tem maridos que quando veem uma vizinha como a Vanúbia, pensam antes, não chegam às vias de fato. O Pescoço já é mais descarado, vai lá conferir. Como todo homem, tem falhas e acaba caindo em tentação. E com uma vizinha daquelas, qualquer um cairia em tentação.
Nas ruas, as pessoas expressam suas opiniões sobre o personagem?
A repercussão nas ruas é muito legal. Tanto dos homens quanto das mulheres. Delas, eu ouço muitos comentários do tipo "você vai perder o pescoço, hein!". Já os homens dizem que eu um dia ainda vou cair daquela laje (risos). Tem gente que recrimina o comportamento do Pescoço, mas tem muita mulher que gosta desse tipo malandro; sabe que está sendo sacaneada mas está tão carente que não larga o osso. Uma vez uma senhora me parou, estava junto com o marido dela, e disse: "Ah, você fica lá na laje olhando a vizinha. Você não tem vergonha, não?!". Em resposta, eu perguntei: "Você sabe o que o seu marido faz quando não está contigo?". Ela ficou toda sem graça, sem saber o que responder. E tem homens que se identificam, alguns querendo ser igual ao Pescoço e outros que já são, mas não assumem. Afinal, malandro que é malandro fica na dele. Eu conheço uns que tem duas ou até três mulheres.
Você buscou referência para compor o Pescoço em algum desses malandros da vida real?
Não tive que ir buscar diretamente, mas eu conheci muitos em diferentes contextos. Tive exemplos não só no meio do teatro, como também quando ia para rodas de samba e conhecia os malandros de verdade.
Até este momento da novela, o Pescoço tem participado de cenas mais leves e até engraçadas. Você já imaginava ou chegou a saber pela sinopse que o personagem iria se envolver com o tráfico de orgãos?
Muito do que foi divulgado recentemente sobre isso nem eu sabia! Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte: no início, o diretor me chamou disse que era um personagem pequeno, mas lá na frente terá um envolvimento com tráfico de órgãos. Eu nem iria fazer o Pescoço. Meu personagem seria outro e morreria atropelado no primeiro capítulo. No meio dos workshops a Glória (Perez) se lembrou de uma troca de cartas entre um presidiário e uma mulher e daí ela tirou o Pescoço. Eu fui fazer uma pergunta pra ela e estava usando uma camisa estampada com São Jorge. Foi aí que ganhei o papel. Glória bateu na camisa e disse: "Exatamente! Salve, Jorge".
Houve alguma preparação especial para essa fase do tráfico de órgãos?
Sim, eu li o livro "Rim por Rim - Uma reportagem sobre o tráfico de órgãos no Recife", de Júlio Ludemir, assisti a um filme sobre o tema e a um documentário de Recife também sobre tráfico de órgãos lá. Mas não tenho a menor ideia se o Pescoço vai ser aliciador ou aliciado. Eu nem sabia se faria esse personagem na época de pesquisa. Sei que o aliciado é, na maioria das vezes aquele pobre, sem dinheiro e sem trabalho. Já o aliciador chega e faz amizade. Pode até oferecer US$ 50 mil, mais a viagem com acompanhante, estadia em hotel cinco estrelas, médicos e tudo de primeira. O tráfico de órgãos é uma mega organização internacional.
O Pescoço é o motivo da briga entre Delzuite e Vanúbia. Já aconteceu alguma coisa desse tipo com você? De estar envolvido com duas mulheres e alguma descobriu?
Não, quem me dera! (risos). Nunca fui o cara bonito ou muito assediado pelas mulheres. Nem na escola nem no teatro. Mas teve uma época, quando estava solteiro, que eu saía com uma produtora teatral, uma atriz que era casada e com uma terceira pessoa. As três sabiam uma das outras. A terceira não estava nem aí, mas as duas primeiras se incomodavam um pouco com a situação. Mas brigar mesmo, elas nunca brigaram. Essa foi minha fase de Pescoço, mas não existia nenhum compromisso com ninguém. Porém, depois que a gente amadurece e já viveu tudo isso, pensa antes de fazer qualquer bobagem. Só que também já fui muito Delzuíte, já me apaixonei por uma pessoa que todo mundo falava que não prestava e eu não acreditando, me dei mal. Isso serviu pra hoje eu estar com uma família bacana, na qual a gente se respeita. Atualmente sou muito bem casado.
Você acha que tem muita Maria Vanúbia por aí dando em cima de homens casados? Já levou alguma cantada de uma delas?
Tem, com certeza. Você sai usando aliança e às vezes é mais fácil arrumar mulher do que estando solteiro. Parece fetiche. Sendo uma pessoa pública piora ainda mais, porque quem não quer pegar alguém que está na mídia, não é?! A oferta aumenta muito. E a fidelidade é uma luta diária. Nessas horas você precisa ser fiel aos seus princípios, ao que você acredita.
E o que você acha que pode acontecer com o Pescoço?
O Pescoço vai ser preso, mas logo será solto. Depois irá viajar com Delzuíte. Mas o que vai acontecer está na cabeça da autora.