Fernanda Montenegro rebate boicote à 'Babilônia' por beijo gay: 'Radicalização'
Publicado em 22 de março de 2015 20:02
Por Purepeople
Fernanda Montenegro foi um dos nomes mais comentados na última semana. A atriz estreou como a Teresa da novela "Babilônia", que, logo no primeiro capítulo, trouxe um beijo entre sua personagem e a de Nathalia Timberg, que vive Estela, sua companheira há quase 40 anos. A cena foi elogiada por grande parte do público, incluindo famosos, mas também foi muito criticada, principalmente pelos mais conservadores, que pregam um boicote à trama das nove da TV Globo. Na quinta-feira (19), a Frente Parlamentar Evangélica divulgou uma nota de repúdio a Fernanda e Nathalia, assinada pelo deputado João Campos (PSDB-GO), acusando a novela de trazer "de forma impositiva, para quase toda a sociedade brasileira, o modismo denominado por eles de 'outra forma de amar', contrariando nossos costumes, usos e tradições". A veterana atriz - 85 anos de idade e 60 de carreira - se surpreendeu com a repercussão negativa das sequências, que foram sugeridas por ela, e disse estar "enfrentando mares revoltos, como d
Fernanda Montenegro rebate boicote à 'Babilônia' por beijo gay: 'Radicalização'
Na novela 'Babilônia', Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg formam o casal Teresa e Estela, que foi um dos assuntos mais comentados na última semana
Fernanda Montenegro comentou repercussão do beijo gay de sua personagem em 'Babilônia': 'A reação ao beijo é moral, e a cena é julgada com a verdade divina, absoluta. Todos têm o direito de se posicionar. O problema é a radicalização desse pensar e no que ele pode se transformar. Não pertenço aos exércitos que estão se formando por aí. Não precisamos desses exércitos. É uma caça às bruxas o que estão propondo, de todos os lados'
Fernanda Montenegro foi um dos nomes mais comentados na última semana por conta do beijo entre sua personagem, Teresa, e Estela (Nathalia Timberg), sua companheira há quase 40 anos em 'Babilônia'
Fernanda Montenegro comenta memes criados a partir do beijo gay dado por sua personagem em 'Babilônia': 'A Globo não me colocou ali, não fui obrigada a ser a Teresa. Não sou uma escrava de ninguém. Estou fazendo o papel com todo meu empenho, adesão e entendimento humano da causa, que é a da pessoa que quer viver sua natureza sem disfarce. Essas personagens são um esclarecimento aos mais bloqueados de razão. É claro que aceitei o papel por isso. Graças a Deus eu posso ir de Nossa Senhora a Teresa'
'Se não tivessem me chamado e eu lesse esse roteiro, eu teria me oferecido. De qualquer forma, mesmo que a novela mudasse, uma coisa é irreversível: o que foi apresentado até aqui já faz parte da história e da cultura e dos movimentos políticos do país', afirmou Fernanda Montenegro
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Fernanda Montenegro foi um dos nomes mais comentados na última semana. A atriz estreou como a Teresa da novela "Babilônia", que, logo no primeiro capítulo, trouxe um beijo entre sua personagem e a de Nathalia Timberg, que vive Estela, sua companheira há quase 40 anos. A cena foi elogiada por grande parte do público, incluindo famosos, mas também foi muito criticada, principalmente pelos mais conservadores, que pregam um boicote à trama das nove da TV Globo.

Na quinta-feira (19), a Frente Parlamentar Evangélica divulgou uma nota de repúdio a Fernanda e Nathalia, assinada pelo deputado João Campos (PSDB-GO), acusando a novela de trazer "de forma impositiva, para quase toda a sociedade brasileira, o modismo denominado por eles de 'outra forma de amar', contrariando nossos costumes, usos e tradições".

A veterana atriz - 85 anos de idade e 60 de carreira - se surpreendeu com a repercussão negativa das sequências, que foram sugeridas por ela, e disse estar "enfrentando mares revoltos, como diria Castro Alves", em entrevista à coluna "Quanto Drama!", da revista "Veja". "A situação toda está muito radicalizada na política, no comportamento. Tudo está muito extremado, e as coisas estão se radicalizando de uma forma muito desesperada. A reação ao beijo é moral, e a cena é julgada com a verdade divina, absoluta. Todos têm o direito de se posicionar. O problema é a radicalização desse pensar e no que ele pode se transformar. Não pertenço aos exércitos que estão se formando por aí. Não precisamos desses exércitos. É uma caça às bruxas o que estão propondo, de todos os lados", disse Fernanda.

Questionada se acredita que a idade das personagens pode ter impulsionado a rejeição, ela respondeu: "Pode ser. Sinceramente, não sei o que deu nesse fenômeno de revisão do comportamento. Até agora não fizemos e não vamos fazer nada que ultrapasse a lisura. Nada. E são duas personagens que ainda não se apresentaram totalmente. Ainda vai ser mostrado a vida dura que elas tiveram, até chegarem a esse encontro de vida comum. O beijo que está dando essa confusão toda é um beijo casto, amoroso, sem desafio erótico ou didática. É uma demonstração de carinho. Por isso, digo que não tenho capacidade de analisar esse momento. Percebo que temos problemas muito mais graves. O país está enfrentando uma crise bastante vívida e sentida, e tem gente disposta a se voltar contra o beijo de duas atrizes de quase cem anos de idade dado dentro de uma relação sacramentada pela vida afora".

Atriz contesta repercussão de caso de jovem morto por ser filho de casal gay: 'Não vi ninguém escandalizado'

A atriz ainda lembrou o caso do jovem Peterson Ricardo Teixeira de Oliveira, de 14 anos, que morreu no início do mês, no interior de São Paulo, após ser espancado por colegas de escola por ser filho de um casal de homossexuais. "A cena já estava gravada quando, uma semana antes, um menino foi morto pelos amigos da escola por ser adotado por um casal gay", frisou.

"Não vi ninguém escandalizado, não vi ninguém contestar e buscar culpados para a formação daquelas crianças, que mataram um colega de escola. E vão se escandalizar com o beijo casto de duas atrizes experimentadas de quase cem anos de idade?", questionou Fernanda, que já havia surpreendido a todos na coletiva de imprensa de "Babilônia" ao beijar Nathalia na boca.

'Se não tivessem me chamado e eu lesse esse roteiro, teria me oferecido', diz Fernanda Montenegro sobre papel em 'Babilônia'

Apesar de toda a censura que parte do público tenta impor à novela, Fernanda não vê semelhanças desse momento com o da ditadura militar, que assolou o Brasil entre 1964 e 1985. "É diferente. Naquela época, nós tinhamos duas posturas. A adesão ou a rejeição a uma postura de comportamento herdada da contracultura e dos movimentos de 68. As coisas eram mais claras e menos pulverizadas. Hoje em dia, a gente tem muitos caminhos. Temos a internet, o que é maravilhoso, porque cada um pode ir lá se posicionar. Mas, ao mesmo tempo, o embate é muito mais diversificado", opinou.

A atriz também não acredita que o movimento contra "Babilônia" possa abalar a audiência do folhetim, que estreou com 35 pontos, de acordo com o Ibope. "Sempre vejo a vida pela minha vivência no teatro. E toda novela que começa é como uma peça de teatro. A segunda semana pode ser melhor do que a primeira e a terceira melhor do que a segunda. Estamos na primeira semana, imagine. Uma mudança seria uma decisão da direção da emissora. Eu sou uma intérprete, e estou agindo de acordo com o que os autores me propuseram, fazendo o que está dentro da minha vocação de atriz. Se não tivessem me chamado e eu lesse esse roteiro, eu teria me oferecido. De qualquer forma, mesmo que a novela mudasse, uma coisa é irreversível: o que foi apresentado até aqui já faz parte da história e da cultura e dos movimentos políticos do país", afirmou Fernanda Montenegro.

"A Globo não me colocou ali, não fui obrigada a ser a Teresa. Não sou uma escrava de ninguém. Estou fazendo o papel com todo meu empenho, adesão e entendimento humano da causa, que é a da pessoa que quer viver sua natureza sem disfarce. Essas personagens são um esclarecimento aos mais bloqueados de razão. É claro que aceitei o papel por isso", afirmou.

Atriz comenta meme criado por internautas: 'Posso ir de Nossa Senhora a Teresa'

Quando a novela estreou, na última segunda-feira (16), não foram só comentários contrários e de apoio ao casal homossexual que apareceram na internet. Diversos memes surgiram comparando a atual personagem de Fernanda com uma bem diferente, vivida há 16 anos, no filme "O Auto da Compadecida": Nossa Senhora. "Graças a Deus eu posso ir de Nossa Senhora a Teresa. Há um toque desse aí pela internet, já viu?", disse a atriz durante a entrevista.

A personagem de Fernanda é uma respeitada advogada, que ganhou fama ao lutar pela libertação de presos políticos durante a ditadura e atuou em casos de discriminação sexual. A atriz defende os bons exemplos dados pelas duas mulheres, que vivem cercadas de personagens inescrupulosos, como a filha de Estela, Beatriz (Gloria Pires).

"São mulheres que alcançaram uma idade em que as coisas são avaliadas de uma maneira até contemplativa. As energias brutais e destemperadas que fazem parte da juventude vão embora, e no fim da vida a gente reavalia tudo. Não sei como não entendem que a união das duas é o lado sadio da novela. Contar a história delas é um ato de coragem dos três autores (Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga), do elenco e de uma produção com tanta qualidade artística e técnica. A gente está só fazendo o trabalho da gente. A resposta é o próprio fazer. A ação é mais importante do que ficar falastrando. Já que estamos todos na Bíblia, digo que mesmo o sopro divino foi uma ação".

Fernanda Montenegro relembra personagem gay há 34 anos na TV

Já foram muitos os beijos gays que deram o que falar nas novelas, mas Fernanda acredita que o casal retratado em "Babilônia" tem um diferencial. "Ela não tem aqueles panos quentes do folhetim, que impedem que se chegue ao fundo do poço. Essa novela resolveu ir até o fundo do poço. Não é a primeira que uma novela fala de ambição, mau-caratismo, corrupção e é povoada pelos vendilhões que a gente conhece bem. A diferença é que esta conseguiu fugir do folhetim, do melado, o máximo possível. Até hoje não vi nenhuma novela que tivesse essa limpeza de dramaturgia, que eliminasse as gorduras do folhetim. Não sei se é melhor ou pior, mas como audácia de dramaturgia, é o máximo", opinou.

Ela aproveitou para relembrar um personagem gay há mais de 30 anos. "Já faz tempo que a telenovela se apropria do tema da aceitação dos homossexuais. Veja, há 34 anos eu fiz 'Brilhante' (de Gilberto Braga). Dennis Carvalho (diretor-geral de 'Babilônia') fazia meu filho, que tinha um caso gay e a mãe nunca percebia. No fim da novela, ele vai embora com seu namorado. Estamos falando de 1981. A homossexualidade sempre esteve presente nas novelas da Globo. E esteve presente na vida real também, não é mesmo? Hoje em dia existe o casamento, a lei permite que casais homossexuais adotem crianças. Está aí, para todo mundo ver. Estou inventando isso? Não!".

No capítulo da última quarta-feira, Teresa e Estela voltaram a se beijar ao saberem que poderiam oficializar a união que mantêm por tantos anos. "Por isso, vai haver um casamento sim das duas senhorinhas da novela, que estão juntas há 40 anos. É algo extremamente delicado e amoroso. Jamais teve a intenção de ser algo agressivo", rebateu.

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